MPT, partido com 'fair play': "Marinho e Pinto deu uma canelada"
O eurodeputado e presidente do Movimento Partido da Terra (MPT) chega alguns minutos atrasado à sede, em Lisboa. Perante a surpresa de quem o vê entrar apoiado numa bengala, José Inácio Faria dá uma explicação bem humorada: "Foi o Marinho e Pinto que me deu uma canelada..."
Na sala Gonçalo Ribeiro Teles - referência do universo ecologista que fundou o MPT em 1993 - já estão os dois primeiros candidatos por Lisboa, Manuel Ramos e Rodrigo Saraiva, e o diretor de campanha, Hugo de Melo Gomes. Todos sorriem ao ouvir o nome do "seu" cabeça de lista ao Parlamento Europeu, que já deixou o partido.
"O resultado [nas europeias] deve-se a ele, mas era um projeto do MPT em que estava Marinho e Pinto e os outros portugueses que acreditavam no partido" e na sua "estratégia de crescimento gradual" iniciada em 2011, relativiza José Inácio Faria, um dos dois líderes dos partidos e coligações que não é candidato a deputado.
"Ele quer respeitar o mandato de eurodeputado", para o qual foi eleito em 2013 na lista liderada por Marinho e Pinto, diz Rodrigo Saraiva, um dos operacionais do MPT e vocacionado para as redes sociais, através das quais é recebida, no telemóvel de Hugo Gomes, uma foto tirada momentos antes do "primeiro outdoor" de campanha - que "vai já para o Facebook", indica o diretor de campanha.
A concorrer pela primeira vez em todos os 22 círculos eleitorais, "não na base do experimentalismo mas da proximidade dos candidatos" aos eleitores e apesar dos "poucos recursos financeiros (57 mil euros), o MPR quer "fazer diferente, como Gonçalo Ribeiro Teles quis desde o início e foi muito criticado... tinha ideias utópicas, mas hoje diz-se que é um vanguardista", refere o seu presidente.
O principal alvo são "os 250 mil eleitores que votam, que estão descontentes mas não querem populismos" e, por isso, expressam-se através dos votos nulos e brancos, precisa José Inácio Faria, desde 2014 líder de um MPT que deixou de ser "uma tertúlia de amigos para ser" um partido "como os outros".
Com duas telas criadas para a atual campanha por trás e tendo do lado oposto revistas do mundo animal e as bandeiras de Portugal, da União Europeia e do Movimento Partido da Terra, o eurodeputado considera que os descontentes "querem encontrar uma postura política em que se revejam". O problema reside em saber "porque é que não se reveem nos partidos que governam ou estão representados na Assembleia da República? Porque esses partidos "mostram uma completa falta de bom senso e de querer compromissos", responde.
Numa sala onde sobressai a placa com a data em que lhe foi dado o nome de Gonçalo Ribeiro Teles (19 de março de 2011), José Inácio Faria lembra a ação desenvolvida em 2011 e que levou o Movimento Partido da Terra de 16.ª a oitava força política: "Mudámos, fomos muito agressivos" e só "gastámos 5000 euros."
O MPT definiu três objetivos e metas "específicas, claras e mensuráveis" para estas legislativas - através de um índice para cada uma: o da felicidade interna bruta, o do desempenho ambiental e o da competitividade global.
O cabeça de lista pelo círculo de Lisboa explica donde surgiu "a ideia de fazer diferente pela felicidade" dos portugueses: "Foi adaptada do reino do Butão, que é dos mais desenvolvidos e felizes do mundo."
Hugo Gomes volta a socorrer-se do telemóvel para dar outro exemplo do tipo de campanha escolhido pelo partido - que obteve o seu melhor resultado (0,41%) nas legislativas de 2011, o triplo dos 0,14% alcançados na estreia, em 1995. Trata-se de um vídeo colocado no YouTube, "feito sem cortes, em que o candidato diz ao que vai e, se se engana, assume em vez de repetir o filme", assim transmitindo a sua genuinidade aos portugueses.